Uma coroa de espinhos se tornou visível no Rio de Janeiro, e ela nos faz chorar, protestar,
calar, refletir e rezar.
Choramos a matança apresentada como solução para o problema que ali existia. Essa
matança gerou o choro que veio dos morros e escorreu não só em sangue, mas também nas muitas
lágrimas de famílias feridas pelo luto.
Protestos ecoaram por toda parte, e gritos foram ouvidos. Os que veem na força letal e na
violência uma solução gritam vitória; os que são da paz protestam dizendo que a violência não é o
caminho. O grito de guerra e o grito de paz se cruzam nos ares, chegam aos ouvidos de muitas
pessoas, atravessam montanhas, rios e mares, e certamente estão alcançando os confins da terra.
Para muitos, essa situação causou silêncio — por medo ou por não saber o que dizer neste
momento. Às vezes, uma palavra chega até a garganta, mas para aí, sem força para ser dita. O
silêncio também faz parte desta tragédia.
A reflexão se ampliou. Ela está sendo feita, e é preciso que continue. É necessário pensar
na dor que faz a esperança sangrar como a dor da droga, do vício, da violência, da desestrutura
familiar, da ausência de fé e de amor, da forma violenta de lidar com a própria violência, do amanhã
sem rumo para a nova geração. É preciso refletir muito.
Essa situação de dor, vivida no Rio de Janeiro, precisa nos conduzir à oração. Novamente,
um clamor brota aqui no Brasil e se eleva ao Céu. Deus há de ouvir nossa prece e nos convidará a
olhar para o seu Filho amado, o Príncipe da Paz, para que nos amemos uns aos outros como Ele nos
amou.
A solução para uma nova humanidade pacificada foi trazida por Jesus. É verdade que a sua
Boa Nova ainda não alcançou nem iluminou o coração e a mente de muitas pessoas. Não deixemos
que nossas vidas se percam neste mundo de trevas; antes, acolhamos o pedido de Jesus a seus
discípulos: que sejamos sal da terra e luz do mundo.
O mundo está destemperado e com pouca luz. Por isso, acendem-se as luzes das armas, das
bombas, da força letal — e, enquanto isso, vidas são ceifadas, a dor aumenta e tudo parece ficar
acinzentado. Mas o brilho, a luz e a esperança da ressurreição continuam a nos guiar.
É preciso acreditar que o mundo pode melhorar. Estamos a caminho de um mundo novo.
No percurso para a Terra Prometida, o povo encontrou obstáculos. Ao chegar lá, as dificuldades
continuaram. Exílios existiram, mas, no meio da miséria, o amor se manifestou na Encarnação do
Verbo: “O Amor se fez carne.”
Uma nova esperança sempre surge quando olhamos para Jesus. Que possamos, mais uma
vez, alimentar a certeza de que um dia nossa vida será gloriosa no Senhor.
Sentimentos de paz e esperança alcancem todos os que sofrem neste momento. Paz a todos
que choram, silenciam, protestam, refletem e rezam.
O Senhor da paz está conosco.
Dom Messias dos Reis Silveira
Bispo de Teófilo Otoni