A “Sala das Lágrimas” é um pequeno cômodo dentro da Capela Sistina, para onde o Papa, apenas eleito, é conduzido antes de ser apresentado ao povo de Deus, para se paramentar como Papa. É como uma criança, que depois de nascer chorando, vai ser vestida para então ser apresentada à família.
Foi desta forma que Leão XIV, envolto no calor da emoção e buscando a compreensão do que a Igreja estava lhe pedindo, foi conduzido à Sala das Lágrimas. Certamente é desafiador entrar ali “trazendo nos seus ombros a pesada cruz que Cristo o chamou a carregar na realização da sua missão”. Não sabemos quais eram os sentimentos que estavam pulsando no coração daquele “servo do servos de Deus”, acabado de ser eleito.
Naquela pequena Sala estavam as vestes que ele deveria escolher, segundo a que melhor lhe servisse, e revestir-se delas. Na Sala das Lágrimas o Papa, de fato, revestia-se de uma nova missão. Depois de estar devidamente vestido como Papa, foi o momento de estar em oração diante de Deus. Um silêncio orante pairou ali, dando oportunidade para se lançar nas mãos de Deus até mesmo com lágrimas.
Aquela Sala já foi testemunha de tantos outros que ali entraram e viveram os mesmos sentimentos, tiveram as mesmas atitudes. Aquela Sala já teve o seu chão molhado pelas lágrimas de muitos Papas eleitos. Trata-se das lágrimas da emoção de sentir-se muito amado por Deus e chamado a amar, como Pastor, o povo que Deus lhe confiou. O escritor francês, Saint-Éxupery, em sua obra filosófica e poética O pequeno Príncipe, já contemplava esta realidade: “É tão misterioso o país das lágrimas…!”. Na Sala das Lágrimas, o Papa também toma consciência de que é preciso levar a consolação a todos aqueles que estão atravessando a vida como um “vale de lágrimas” (cf. Oração da Salve Rainha). “Bem aventurados os que choram porque serão consolados“ (Mt 5,4).
O Papa Leão XIV começou bem o seu ministério apresentando-se no Balcão da Basílica de São Pedro anunciando a consolação do Cristo ressuscitado: “A paz esteja convosco”, disse ele. E prosseguiu dizendo: “Esta é a primeira saudação do Cristo ressuscitado: o Bom Pastor que deu a vida pelo rebanho de Deus. Eu também gostaria que esta saudação de paz entrasse em nossos corações e chegasse às suas famílias, a todos os homens, onde quer que estejam, a todos os povos, a toda a terra: a paz esteja convosco“.
“Esta é a paz de Cristo ressuscitado: uma paz desarmada e uma paz desarmante, humilde e perseverante. Ela vem de Deus, que ama a todos nós”.
Assim, depois de eleito e tendo passado pela Sala das Lágrimas, revestido da missão, e ficado sozinho em oração e adoração profunda e silenciosa na Capela Paulina (que fica ao lado da Capela Sistina), o Papa plantou a semente da paz do ressuscitado no coração do mundo.
Lágrimas sempre fizeram e farão parte da existência de qualquer ser humano. A Sala das Lágrimas nos recorda as muitas lágrimas de nossas salas existenciais. Elas aparecem quando se chega, ou quando se parte. Elas surgem na alegria e na dor. E quando as lágrimas brotam em nós, é preciso nos lembrar que elas também existem em todo o mundo. A lágrima pode ser derramada na sala de nossa casa, no quarto, no hospital, no velório, na igreja, nos teatros e em muitas outras salas. As lágrimas estão na salas de nossas vidas e, diariamente, passamos pela sala das lágrimas porque estamos vivos. Quem não se emociona não expressa vida. Quem tem um coração puro, manso e humilde se comove com as lágrimas nas salas do mundo.
A nossa missão não é apenas a de enxugar lágrimas, pois elas se parecem com a fome que é saciada mas depois retorna. Também as lágrimas podem ser enxugadas, mas depois aparecem outras. A nossa missão deve ser de consolar os que choram e sermos solidários com os que sofrem derramando lágrimas nas salas de suas vidas.
A Sala das Lágrimas e as lágrimas na sala são realidades que se entrelaçam porque o sofrimento faz parte da realidade humana, que é sempre tocada pela emoção da dor e da cura, da morte e da ressurreição. Com fé e esperança devemos prosseguir com sentimentos de que o mal não prevalecerá.
Já ouvimos muitas vezes dizer que o choro lava a alma. As lágrimas não nos deixam enrijecer e nos ensinam a termos um coração dócil e muito humano. Podemos dizer que a Sala das Lágrimas é o lugar de humanizar-se e encontrar em Deus a força para viver e amar.
Dom Messias dos Reis Silveira
Bispo de Teófilo Otoni