O tempo do Advento é um tempo curto no ano litúrgico, mas muito rico de sentidos e profundo em sua teologia. São quatro semanas em que a comunidade se prepara para a vinda do seu Senhor. Ele possui dupla característica: prepara-se para as festas natalinas, nas quais se comemora e se faz memória da primeira vinda do Senhor entre os homens, e, por meio dessa lembrança, a comunidade reafirma a feliz expectativa do retorno do Senhor. Do primeiro domingo do Advento até o dia 16 de dezembro, a liturgia nos apresenta o aspecto escatológico do Advento, inflamando os ânimos para a espera da segunda vinda de Cristo. Do dia 17 a 24 de dezembro, há formulários próprios para cada dia para que todos quantos colham os frutos da liturgia possam dispor-se mais adequadamente com o espírito preparado à celebração do Natal.
Por essa dupla significação o Tempo do Advento se apresenta a nós não como um tempo de austera penitência (a Quaresma possui essa acepção), mas de uma piedosa e alegre expectativa. O convite à conversão, próprio desse Tempo, possui tonalidades específicas: converter-se profundamente para viver a expectativa, a esperança, a alegria pela vinda do Senhor. É tempo de celebrarmos a alegria que nasce da esperança cristã e, por isso, o missal apresenta o seguinte sobre esse tempo: “no Tempo do Advento se ornamente o altar com flores com moderação tal que convenha à índole desse tempo, sem contudo antecipar aquela plena alegria do Natal do Senhor” (IGMR, n.305).
Assim, a Igreja pretende que o tempo do Advento seja para todo cristão não uma austera reparação do pecado, mas um tempo de educar-se na esperança, uma esperança forte e paciente, que aceita a provação e lentidão no desenvolvimento do Reino, de modo que a antífona de entrada do Primeiro Domingo do Advento serve dá o tom e transparece o espírito desse Tempo: “A ti, Senhor, elevo a minha alma; em ti confio, meu Deus. Que eu não fique envergonhado, e meus inimigos não triunfem sobre mim! Os que em ti esperam não fiquem envergonhados” (Sl 24,1-3). Tanto na memória da primeira vinda do Senhor quanto na expectativa da sua volta celebração a nossa esperança pela recriação e regeneração completa e plena de todo o gênero humano, que se dá em Jesus Cristo.
– Padre Igor Neves Passos
Pastoral Litúrgica Diocesana