O caráter original da Quaresma, conforme a força expressiva da própria palavra, foi colocado na preparação para a Páscoa de toda a comunidade e dos indivíduos, prolongada por quarenta dias.
“Na determinação da duração de quarenta dias, a fim de que os cristãos se preparem para celebrar a solenidade pascal, é mais do que certo que teve grande peso a tipologia dos quarenta dias, isto é, o jejum de quarenta dias de nosso Senhor Jesus Cristo; os os quarenta anos transcorridos pelo povo de Deus no deserto; os quarenta dias em que Moisés esteve no Monte Sinai; os quarenta dias em que Golias, o gigante filisteu, desafiou Israel, até que Davi avançou conta ele, abateu-o e o matou; os quarenta dias durante os quais Elias, fortificado pelo pão cozido sob as cinzas e pela água, chegou ao monte de Deus; os quarenta dias nos quais Jonas pregou a penitência aos habitantes de Nínive.”
Originalmente, a Quaresma começava no sexto domingo antes da Páscoa e se estendia até à Quinta-feira Santa. Neste dia os pecadores que haviam sido despedidos na Quarta-feira da Igreja e admitidos como penitentes, eram readmitidos no seio da comunidade. Porém essa contagem de dias não abarcava os 40 aludidos no nome. Somente no século IV é que o número de 40 dias é expressivamente representado. Isso porque os domingos não eram (não são) dias de jejum. Não se jejua quando o noivo está conosco (Mt 9,15). Este número 40 foi alcançado em duas etapas: primeiro separou-se a Sexta-feira Santa e o Sábado Santo do Tríduo Pascal, chegando-se assim, ao número de 36 dias. Esse número era bastante significativo porque alguns Padres da Igreja viam nele a décima parte do ano completo com 365 dias. Por fim, acrescentou-se os quatro dias feriais anteriores ao Primeiro Domingo da Quaresma, chegando, assim, na atual Quaresma: iniciada na Quarta-feira de Cinzas e prolongada até a Quinta-feira com a Missa da Ceia do Senhor, exclusive.
– Pe. Igor Neves Passos