Tempo Pascal: tempo de sair do túmulo

Estamos no embalo do tempo pascal. Um sentimento de Páscoa deve ser vivido diariamente por todos os que se dirigem à Galileia para encontrar

Estamos no embalo do tempo pascal. Um sentimento de Páscoa deve ser vivido
diariamente por todos os que se dirigem à Galileia para encontrar Jesus. O tempo pascal nos
recoloca nos caminhos do Senhor Ressuscitado. O Ressuscitado nos lembra o processo de
libertação da vida. Ele traz no seu corpo ressuscitado as marcas da paixão. E para chegar à glória
da ressurreição, Jesus foi entregando a sua vida com confiança. Teve encontros libertadores com
as pessoas. Falou de vida nova, reintegrou muita gente na sociedade, reconstruiu a vida de tantos
homens e mulheres. No final da sua missão, presenteou-nos com a Eucaristia e o sacerdócio.
Após a sua morte, para confirmar e dar garantia de sua missão, o Pai o ressuscitou. Ele foi se
manifestando aos discípulos e a Igreja foi surgindo fortalecida pelo Espírito Santo.

Na Ressurreição, não apenas o túmulo se abriu, mas o morto que estava dentro dele
reviveu e veio para fora. Creio que, na noite da Vigília Pascal do Sábado Santo, cada pessoa
quis e até conseguiu abrir o túmulo da sua própria vida. Que bom que isso aconteceu! Mas, é
preciso vir para fora.

O ser humano tem o costume de fabricar o seu próprio túmulo: cria as paredes que
escondem o seu egoísmo, o seu orgulho, os seus vícios, a sua injustiça, os seus maus tratos e os
seus ressentimentos. Há sempre uma tendência em querer ser sepultado a cada dia. É até mais
cômodo estar sepultado, pois assim a visão do mundo fica encurtada e incomoda menos. Este
sepultamento é também chamado de alienação, de comodismo ou de fuga.

Na Páscoa, abriu-se o túmulo. Mas abrir o túmulo é muito pouco. Abrir sem renovar ou
ressuscitar o que está dentro causa medo, nojo e repulsa. É importante não apenas abrir e sair,
mas sair ressuscitado, ou seja, com novas escolhas e esperanças. Ressurreição é processo
contínuo na vida. Há sempre em nós um desejo de voltar atrás. Há uma certa saudade da
escravidão, do pecado, dos vícios e da vida anterior. Mas não podemos ficar parados. Temos que
nos reinventar e nascer de novo no caminho da ressurreição.

Neste Tempo Pascal o túmulo não é mais um lugar onde se entra; ele se torna lugar de
saída. Esse termo tão usado ultimamente pelo Papa Francisco e por todos que se inspiram em
suas palavras tem sua fonte e origem no mistério pascal. Do túmulo sai Maria Madalena
anunciando Cristo Ressuscitado, do túmulo saem Pedro e João encorajando, reunindo e
revitalizando a Igreja nascente e, principalmente, do túmulo saí Jesus que vem para fora como
protagonista da Vida Nova. É preciso, pois, sairmos de nossos túmulos com um semblante de
ressuscitado, deixando lá dentro os panos que nos envolviam nas nossas paixões existenciais.

Para manter o processo de ressurreição, há que se orar também em ritmo pascal. Orar é
respirar na graça. Orar em ritmo pascal é estar sempre cuidando das feridas que emergem no
processo de viver, é curar o relacionamento com Deus, com as pessoas, com a natureza e consigo
mesmo, fortalecendo tudo o que podemos chamar de amizade social. Orar em ritmo pascal é
permitir ser presenteado com os sentimentos do próprio Deus.

Orar sempre e de maneira pascal nos leva a viver com o coração em festa. Se é bem
verdade que somos caminhantes e experimentamos a dor, o pecado e a morte, também é certo
que em Cristo somos vitoriosos e seu amor há de durar sempre, porque o amor de Cristo é vida, e
quem crê n’Ele não morre.

Até mesmo quando a dor, o cansaço, a tristeza e o pecado quiserem nos desanimar, não
podemos parar de olhar, de confiar e de esperar porque, enquanto cristãos, homens e mulheres de
fé, vivemos em ritmo pascal. É nesta estrada que continuamos buscando o Senhor, na certeza de
que o encontro consolador virá. Na descoberta desta caminho, Santo Agostinho rezava: “Se
quando eras tu que me buscavas, eu te fugia, agora que sou eu que te busco, como não vai
acontecer o encontro?”

O tempo pascal é propício para orar na presença do Senhor ressuscitado que torna o
homem novo. Mas é preciso orar em ritmo pascal.

Dom Messias dos Reis Silveira
Bispo de Teófilo Otoni

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